Eu moro na Gringolândia há quase 2 anos e
sempre digo que tem um monte de coisas que no nosso querido Brasil Varonil é
melhor e outras que lá é melhor. Parir lá é melhor demais. Mas demais
mesmo! Demais da conta como se diz na minha terra natal, onde meus pais moram.
Sim, quero falar de parto. É porque acabei de chegar de uma consulta com o
médico “muito gente boa, o GO queridinho da clínica”, o GO que atende a minha
irmã.
Eu nasci em Goiânia onde a minha família mora,
e se o pensamento dos ginecologistas e das demais pessoas no
Brasil inteiro é retrógrado e cesarista, aqui em Goiânia deve ser cem vezes
pior. Na clínica que fui atendida havia um médico que fazia parto normal, e ele
era o GO da minha irmã, mas no ano passado ele deixou de atender lá. E agora só
tem cesarista, e é muito triste. Mas eu tinha que ir em uma consulta com algum
GO por aqui a pedido da minha GO na Gringolândia, então pode ser com o
queridinho cesarista, é só uma consulta mesmo.
Chego lá e de início a recepção é aquela
bagunça. Tinha cerca de cinco recepcionistas, todas elas conversando entre sim,
em alguns momentos elas falavam mal das recepcionistas do outro turno. Não
havia cadeiras suficientes para todos os pacientes que aguardavam a consulta com
os especialistas. Eu paguei uma consulta particular e o atendimento era por
ordem de chegada. Tinha 6 mulheres que chegaram na minha frente, então eu
fiquei lendo enquanto não me chamavam. Uma das atendentes chamou um montão de
gente, e eu não ouvi chamar meu nome. Continuei lá lendo. Depois de muita
demora fui perguntar e a moça me disse que já tinha chamado o meu nome há muito
tempo. Ok, falha minha em não prestar atenção quando chamaram, mas eles também
são muito desorganizados!
Daí entro pra consulta com o médico. Ele foi
bem atencioso e educado, leu todo o meu histórico que eu trouxe da
Gringolândia, com todos os exames e consultas que fiz. Achei bem legal que o
inglês dele é ótimo, e desde o início da conversa ele percebeu que eu sou uma
paciente bem informada, que eu sei o dia que ovulei, sei sobre implantação do
óvulo e outras coisas. E por isso ele conversou bem de igual pra igual, foi
tudo ótimo até ele dizer o seguinte
“Então como você mora nos Estados Unidos terá
que ter parto normal lá, heim?! Não terá outro jeito”.
Eu disse: “Se Deus quiser será normal mesmo,
doutor! Estou bem feliz com isso, espero que seja normal, como tem que
ser em qualquer outro lugar do mundo. Realmente lá a cesária é só em caso de
necessidade”.
Daí ele solta “Ah, mas você sabe que a cesária
é SEMPRE melhor e mais seguro pro bebê”. Bla-bla-bla e algo sobre ter que
monitorar muito bem a gravidez pro parto normal ser seguro.
Ahhhh!!! Daí eu respirei, contei mentalmente
até 10 e disse: “Doutor, é melhor a gente nem conversar sobre esse assunto
porque eu estou voltando pra Boston em 15 dias, espero mesmo que eu não tenha
que dar a luz aqui. E se eu tivesse sei que seria bem difícil ter que procurar
um médico pra fazer e tudo mais. O fato é que os Estados Unidos são um país
mais desenvolvido que o Brasil, e tanto lá quanto em outros países ricos a taxa de cesárea é bem menor que a do Brasil.”
Ele concordou que era melhor mesmo mudar de
assunto, depois disso ficou tudo bem, ele ouviu os batimentos cardíacos da
Sementinha, que estão normais na média de 145 por minuto, mediu a minha barriga
que tá com 20 cm e minha pressão, que tá normal.
Saí de lá com aquela certeza que eu serei muito
mais bem assistida na Gringolândia que aqui, e pensando que é ótimo eu parir
lá.
E por falar em partos, há algum tempo estou
lendo muito sobre a ocorrência de cesárias nos Estados Unidos e em outros
países. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a taxa de cesárias
não ultrapasse 15%. No Brasil a taxa total é mais de 50% e nos hospitais particulares do país elas
ultrapassam 80% dos partos. Nos Estados Unidos essa taxa foi de 21,5% em 2012.
Desde a década de 1960 o número de cesáreas cresceu muito nos Estados Unidos, e
isso preocupa muito o país. Aliás, esse crescimento é um dos principais fatores, junto à obesidade,
apontados por pesquisadores para o aumento no número de mortes em mulheres
gestantes.
Aqui no Brasil temos a maior taxa de cesárea do
mundo, uma das maiores taxas de nascimento de prematuros. Assim como a taxa de cesáreas é grande, a taxa de morte de grávidas e de bebês também é maior que em
outros países.
É óbvio que o procedimento cirúrgico é
necessário em algumas circunstâncias, não questiono isso de jeito nenhum. Mas
um médico dizer que a cesárea é sempre melhor pra mãe e pro bebê? Como assim,
se há tantos estudos científicos que comprovam o contrário? Como assim, se todos os países
considerados desenvolvidos tem taxa de cesárea bem menor que a do Brasil? E o parto normal é recomendado pela OMS??
A Dra. Melania, uma famosa ginecologista da
Paraíba escreveu uma lista de indicações reais e fictícias para se fazer uma
cesárea, para ver basta clicar aqui.
Agora coloco aqui duas fotos do antes e do agora. Quanta diferença, heim! Hoje posso dizer que tenho uma barriga de pequena melancia. Além da barriga to com mais peito, quadril e bunda, onde se alojaram os quase 6 kg que ganhei até agora, e uma cor desbotada que até me assusta de ver.