23 de fevereiro de 2014

A história da minha irmã que nasceu prematura



Entre a minha família e amigos todos admiram a história da minha irmã que nasceu prematura. Ela foi quase dada como morta, quando nasceu cabia na palma da mão do meu pai, e ele sempre conta isso pra todo mundo com o maior orgulho. 

Eu sou a mais velha dentre as 4 irmãs e ela é a terceira da escadinha. A diferença de idade entre nós duas é de pouco mais de 6 anos, e infelizmente eu me lembro de quase nada da época do seu nascimento. Por isso muita coisa nunca foi clara pra mim, mas durante uma viagem de carro que fiz com a minha mãe, só nós duas, enquanto eu dirigia perguntei algumas coisas e ela me esclareceu sobre como foi tudo. Agora quero dividir um pouco aqui com vocês.

A minha mãe perdeu 5 bebês ao total, 4 deles antes do meu nascimento. É por isso que eu me chamo Rita de Cássia, em homenagem à Santa das Causas Impossíveis, já que todo mundo achava que era impossível vingar algum bebê saído do ventre da minha mãe. Dá pra perceber que ter problemas em gestações foi algo que ocorreu muito na minha família. Mas em 1989 os meus pais já tinham 2 filhas e esperavam por um terceiro bebê, que deveria nascer na metade do mês de maio. Mas já em fevereiro a bolsa estourou. De acordo com a minha mãe ela permaneceu com a bolsa rota por cerca de uma semana. Seu ginecologista disse que ela teria que permanecer em repouso, mas com duas crianças de 6 e 4 anos em casa e um marido ausente que nunca ajudou nos afazeres, não dava pra ter repouso algum.

Foram dias de muitas dores, contrações, até que no dia 23 de fevereiro ela percebeu que a bebê ia mesmo nascer. Ela estava com cerca de 28 semanas de gravidez. No hospital ela teve um parto normal e foi atendida por um obstetra que não era o seu médico. Basicamente o cara era um cavalo, de tão grosso. Quando ela nasceu esse tal médico duvidava que a neném poderia sobreviver e deixou isso muito claro, assim na frente da mãe. Até que uma enfermeira disse que a bebê respirava e mexia os olhinhos. Ela tinha 1,1 kg e o hospital não oferecia as condições necessárias para cuidar dela. Por isso ela foi levada para ser encubada no Hospital Materno Infantil.

Nesse hospital ela ficou internada só por 2 dias. Eu me lembro de ficar dentro do carro com o meu pai na porta do hospital enquanto a minha mãe estava lá dentro com a minha irmãzinha que tinha recém nascido. Lembro que eu fiz muitas perguntas ao meu pai. O fato é que a minha mãe viu formigas passeando pelos aparelhos que estavam ligados ao nariz da minha irmã. Ela aprontou um escândalo para tirar a bebê de lá. Meus pais foram taxados de loucos e assassinos pelos médicos e tiveram que assinar um termo de responsabilidade para poder levá-la pra casa. E assim fizeram. Mas eles tiveram o apoio total do GO da minha mãe e da pediatra da família que passou muitas informações para a minha mãe.

A coisa mais louca e maravilhosa é que a minha irmã se alimentava única e exclusivamente com leite materno. Ela era muito pequena para sugar o peito, então a minha mãe, que em todas as gravidezes era quase como uma vaca leiteira, ordenhava manualmente seu leite e dava para a minha irmã com uma mamadeira pequena.

Ainda hoje algumas pessoas dizem que a minha irmã é a “menina do algodãozinho”, porque ela ficava em uma pequena cesta coberta de algodão. Mais tarde, depois de ela ir pro berço, eu usava essa mesma cesta para colocar algumas das minhas bonecas para dormir. 

Quando a minha irmã tinha apenas 11 meses a minha mãe descobriu que estava grávida da quarta filha. Isso foi completamente inesperado e deixou a minha mãe se sentir um pouco culpada por ter que parar de amamentar antes do que ela planejava e ter que dividir a atenção dela com outro bebê. Mas tudo correu muito bem, pelo menos é assim que vemos atualemente quando olhamos pra trás.

Hoje é o aniversário de 25 anos da minha irmã, a mais guerreira de todas. Ela mora sozinha, é estudante de medicina em uma Universidade Pública e se formará em dezembro. Ela sempre dizia que não havia se decidido com absoluta certeza pela residência que ela queria fazer, mas agora é oficial, ela será pediatra - o que todos desde o início achamos que tem tudo a ver com ela. Tenho certeza que ela será uma ótima profissional, assim como ela é uma pessoa incrível, tão atenciosa com todos. Ela sempre foi uma criança muito conversadeira, falava pelos cotovelos, e é a minha irmã preferida por todos os meus amigos. Todos a adoram, e antes de eu engravidar o maridex já tinha me falado que gostaria muito de chamá-la para ser a madrinha da nossa primeira criança. Nós perguntamos a ela e, claro, ela aceitou ser a madrinha da Sementinha, o que nos deixa muito honrados e felizes.

Ela nem sabe que eu tenho este blog, mas aqui deixo um feliz aniversário pra ela, esta pessoa a qual é tão fácil de gostar, que eu admiro tanto, e que em breve será também a minha comadre.

24 comentários:

  1. Uau, que história! Hoje em dia já é complicado sobreviver um bebê tão prematuro, imagina 20, 30 anos atrás... Parabéns para a sua mãe! Não deve ter sido nada fácil. Queria ter visto uma foto da sua irmã RN, devia ser minúscula :) Beijos, Paty (Conversando com Bernardo)

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    1. Oi, Paty! Obrigada! A minha mãe foi muito corajosa e forte mesmo. Mas é interessante que ela nunca deixou alguém tirar foto da minha irmã antes de ela se parecer com um bebê "normal". Ela sempre foi meio superticiosa e tinha seus motivos pra não querer fotos. Acho que se fosse hoje em dia teríamos fotos sim, todo mundo tira milhões com seus celulares, mas na época era diferente.
      Beijos!

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  2. Ah Rita, que história bonita!
    Eu adoro essas histórias!
    Já passei por isso, minha melhor amiga, desde a barriga, desde criança, teve uma filha prematura de 28 semanas...minha afilhada tão esperada e amada, que eu fiquei esperando 77 dias para poder ver e pega-la no colo pela primeira vez. Foram 77 dias na UTI...dias dificeis, complicados, de luta e uma grande vitória no final!

    Daqui uns dias ela já está fazendo 1 ano e se a gente olha assim, ela tão linda, grande, feliz, sorridente, nem parece quele bebê frágil de 1,200 kg!

    Essas são as pessoas mais fortes!

    Parabéns pra sua irmã!

    Beijoooo

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    1. Oi, Nicole! Que bom que a sua afilhada está bem! Acho que as dificuldades fazem a gent emais fortes, e os prematuros já passam por uma luta tão grande pela vida desde o primeiro segundo. Isso faz deles sim pessoas fortes.
      Beijos!

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  3. NOssa Rita sua mãe foi uma guerreira mesmo, ainda mais naquela época com tão pouco recursos. Legal sua escolha para Madrinha, imagino que sua irmã deve ter ficado imensamente feliz. bjão

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    1. Oi, Francine! Os recursos que tínhamos em casa era mesmo o amor... A minha irmã ficou feliz sim com o nosso pedido. Beijos!

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  4. Nuossa... De arrepirar... Historias de prematuros são muito intensas para mim porque eu passei por algo, mas nasci de 43 semanas. Quase morri, tive falta de oxigênio... Mas olha eu aqui, 37 anos depois... E feliz. Parabéns à sua irmã. E um bjao pra vcs!! Bjs

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    1. Oi, Jorge! No seu caso foi o contrário, né?! Também uma história forte! Beijos pra vocês!

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  5. Parabéns pra sua irmã, que lindo esse texto e seu orgulho por ela....
    Guerreira sua mãe e guerreirinha sua irmã.

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  6. Que duas guerreiras!!! Antigamente os hospitais não tinha estruturas como hoje e olha só, sobreviveu e hoje esbanja saude...
    Tenho certeza que será uma ótima profissional.
    Beijos e uma ótima semana!
    Caio, o melhor presente

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    1. Oi, Thaty! Obrigada! Ela será sim uma profissional excelente! Beijos

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  7. Eu tb sou prematura, de 30 semanas e de tanto minha mãe contar tdo que passou tinha pavor de Lorena nascer prematura, embora saiba que hoje os recursos são outros.
    Parabéns para sua irmã!!

    Beijos

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    1. Suzy, com certeza a sua mãe passou por uma barra tendo você prematura! E eu entendo esse seu medo, porque eu também tenho uns medos que vem do que a minha família já passou. Beijos!

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  8. Nossa que história mais linda
    de superação e amor na sua família ;)
    E que profissão mais linda ela escolheu
    com certeza vai ajudar a salvar muitas vidinhas ;)
    bjãooo

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    1. Oi, Agueda! Mesmo antes de começar a faculdade eu jápensava que ela seria pediatra. Ela tem tudo a ver com essa profissão. E pra Sementinha será ótimo: uma tia madrinha pediatra! Beijos

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  9. Nuh! Me emocionei.
    Menina do céu, quase chorei.
    Irmã e mães guerreiras. Que sua irmã siga em frente com muito amor nesta profissão.

    Um beijo

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    1. Oi, Carol! É de emocionar mesmo! Muita luta pra um serzinho tão pequeno começando a vida fora do útero. Beijos!

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  10. Que história linda, Rita! Parabéns pra sua irmã! Beijos!

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  11. Uau que belíssima história! Mais lindo ainda e saber que ela será pediatra... e madrinha da sementinha... cuidado dobrado! parabéns pra ela!
    Bjokas

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    1. Obrigada, Determinada! Ah, ela será uma ótima madrinha! Beijos

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