16 de julho de 2014

Relato de parto - parte 2



Se você não leu ainda a primeira parte do meu relato de parto, clique aqui.


O nosso quarto de parto era bem espaçoso. Tinha uma banheira grande, bola de pilates e uma enfermeira só pra mim. Seu nome era Jean, uma senhora calada, mas muito doce. A cada contração que vinha ela me apoiava, me segurava e dizia pra eu respirar, que eu estava fazendo tudo direitinho, que estava tudo bem. Ela me dava água pra beber, me perguntava se eu queria comer alguma coisa ou beber algo além de água. Foi fundamental pra mim ter o apoio tanto da enfermeira quanto do maridex.


O meu local preferido pra suportar a dor das contrações foi dentro da banheira. A água era bem quente, o que me ajudava muito. Eu ficava abraçada na borda, que estava coberta com uma toalha pra ficar mais confortável pra mim. No intervalo de cada contração eu cochilava, e quando as contrações vinham eu me mexia, ficava mais no centro da banheira até passar. Quando passava eu voltava pra borda. A Jean ficava lá o tempo todo, ajudando no que fosse preciso e me vigiando pra eu não me afogar. E sempre ela monitorava os batimentos da bebê com um aparelho que era a prova d’água. Estava tudo indo bem, inclusive durante todo o tempo ouvíamos músicas que eu tinha escolhido e faziam parte do meu playlist para o parto.

Durante as contrações eu fazia careta e depois dava até pra sorrir pra foto


Eu já li relatos de mulheres que não sentiram a famosa vontade de empurrar, ou que sentiram só na hora  certa mesmo. Pra mim, antes de chegar no período expulsivo eu já tinha a vontade de empurrar. Era uma vontade fortíssima, uma coisa doida de se sentir. Ela vinha com as contrações e basicamente era uma vontade imensa de fazer o numero 2. Eu nunca tinha sentido tanta vontade de cagar em toda a minha vida! Rs! Falei isso pra Jean e ela me pediu pra eu segurar, que não era hora ainda. Se eu começasse desde já a empurrar poderia me machucar. Eu segurei, mas foi bem difícil, parecia quase impossível pra mim não fazer força, de tão forte que era. Cheguei até a pensar na possibilidade de querer usar o banheiro, mas sabia que não era isso, já que eu tinha feito o número 2 várias vezes durante a primeira parte do TP que passei em casa, foi um limpa-intestino-geral. E além disso a vontade só vinha durante as contrações.


A médica que estava de plantão era uma das minhas preferidas da clínica. Ela vinha sempre, checava como eu estava e fazia o exame de toque quando eu pedia. Eu estava dilatando bem, em média 1 cm a cada uma hora e meia. O cansaço ia batendo forte e de 2 am até 5 am a minha dilatação parou em 8 cm. Não passava disso. Eu tentava caminhar pelo quarto e usar a bola. Na banheira eu não queria mais entrar, estava cansada da água e do calor. Fiquei na bola de pilates até quase cair cochilando. Isso me fez ver que o cansaço estava me vencendo. A Jean e o maridex me ajudavam muito, mas estava difícil pra mim por causa do sono. A médica veio, fez um exame de toque, vimos que eu ainda estava com 8 cm de dilatação e também ela viu que a bebê estava virada. Pra cabeça se encaixar direitinho na pelve, a parte de trás da cabeça deve estar voltada pra frente da barriga da mãe. Mas a minha bebê estava com a cabeça virada do jeito contrário. No decorrer do trabalho de parto ela viraria, mas eu estava exausta pra aguentar mais tempo e principalmente seria difícil pra mim empurrar com todo esse desgaste de 2 noites seguidas sem dormir. A médica conversou sobre isso conosco e decidimos que eu precisava de descansar. Eu sabia que a solução era tomar uma anestesia epidural, eu já tinha visto um caso semelhante num vídeo. Com a epidural eu poderia  dormir enquanto a minha pelve dilataria. Foi essa a sugestão da médica que eu aceitei feliz depois de mais de 30 horas de trabalho de parto.


O maridex tinha receio que se algo que estivesse fora dos meus planos precisasse ser feito eu ficaria chateada ou me sentiria menor. Mas isso não aconteceu. Fiz o que eu podia, cheguei no meu limite da exaustão. A dor em si não era o problema, era como a música do Lulu, ela vinha como ondas do mar e passava. A cada contração eu me sentia mais perto de parir a minha filha. Mas ficar 2 noites seguidas sem dormir estava me derrubando.


As médicas e enfermeiras do hospital tinham nos dito durante a minha gravidez que no quarto de parto que tem banheira eu não poderia ter anestesia. Se eu quisesse uma epidural eu teria que mudar de quarto. Mas isso não foi verdade. A anestesista chegou no nosso quarto rapidamente, e no intervalo entre contrações, tomei a epidural e após alguns minutos ela começou a fazer efeito. Eu ainda sentia uma dorzinha do meu lado direito, mas ainda assim eu apaguei. Dormi pesado durante cerca de 3 horas, mas para mim é como se tivesse sido muito mais. Essas 3 horas foram o suficiente para descansar o meu corpo e renovar as minhas forças. Durante o meu sono havia trocado o turno de plantão, a nossa nova enfermeira era a Donna, uma senhora mais falante que a Jean, muito prestativa e simpática. E a nova médica não era a minha GO, mas também uma das minhas preferidas da clínica. Na consulta que tive com ela gostei muito da sua energia, simpatia e seu bom humor.


Mas assim que acordei eu estava muito incomodada com a minha posição na cama. Eu precisava de mudar e rápido. A Donna não estava no quarto naquele momento, e o maridex estava dormindo, então mesmo com as pernas dormentes consegui me mexer com ajuda das minhas mãos e virei sozinha para o outro lado.  Depois que mudei de posição algo estranho aconteceu. A cada contração que vinha, que antes não doía quase nada, começou e doer muito entre o meu quadril e a minha coxa direita. Era uma dor fortíssima. Por mais que não doesse toda a área que eu sentia antes, ainda assim era terrível. Porque se antes eu podia me mexer para suportar a dor, agora eu estava presa na cama, com as pernas dormentes e eu não podia controlar o meu corpo. Assim eu não ia conseguir prosseguir.


Eu gostaria de ter o meu parto o mais natural possível, por isso eu não queria ter anestesia. Mas agora que eu tinha tomado epidural, eu havia perdido o controle sobre as minhas pernas, a parte ruim e que era esperada, mas a parte boa da epidural eu não estava tendo, que é não ter mais dor. Eu cheguei a pedir que fosse cessada a epidural, porque assim a dor seria forte, mas pelo menos eu teria de volta controle total sobre o meu corpo.


Um anestesista veio, eu expliquei o que estava acontecendo e eu pedi que ele tirasse a epidural, mas ele sugeriu que fosse aumentada a carga da anestesia, mas eu sabia que isso não faria parar essa dor. Eu conversei com a Donna, e depois com a GO, e ambas me compreenderam. Uma outra médica anestesista chegou, ela era muito simpática e ainda hoje lembro que ela se parecia com um anjo, de tão linda que ela era. Ela conversou comigo, e me disse que era difícil saber a causa do que estava acontecendo. Mas ela disse que ela poderia tentar resolver administrando uma anestesia espinal e refazer a epidural. Senão resolvesse iríamos simplesmente cortar a anestesia.


Na hora não entendi direito o que ela explicou, eu só queria que algo fosse feito, ou pra parar a dor ou pra me permitir controlar o meu corpo novamente. Mas uma coisa ela disse, que mesmo que fosse cessada a anestesia, iria demorar um tempo pra eu ter controle das minhas pernas.


Ela fez o procedimento, recolocou a epidural e administrou a espinal, e minutos mais tarde a dor do lado direito foi diminuindo até parar por completo. Um tempo depois, era cerca de 10 am, a GO chegou, me examinou e nos deu a notícia de que estava tudo certo, bebê na posição e a minha pelve com 10 cm de dilatação. Ela já conseguia ver a cabeça da bebê, que estava bem em baixo, prontinha pra sair. Era hora de empurrar! Eu fiquei tão contente, num excitamento, uma sensação gostosa. Pedi então que desligassem a anestesia totalmente, eu queria sentir tudo o que fosse possível. Eu não tinha noção de tempo e nem vi direito o que acontecia a minha volta, mas maridex me contou depois que tanto a Donna quanto a médica prepararam algumas coisas pro parto. A Donna colocou uma espécie de avental cirúrgico por cima, trouxeram alguns materiais que não tinha antes. Eu não vi nada disso, só sabia que esse momento era o mais esperado. Já fazia quase 40 horas que o TP tinha começado e agora era a fase final.



Esta é a última foto minha grávida, minutos antes da fase expulsiva
Para continuar a ler o relato de parto, clique aqui e vá para a parte 3.

12 comentários:

  1. Como vc foi corajosa Rita parabéns pela sua força lindo seu relato

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  2. Eu acho incrível essa limpeza intestinal que o corpo faz sozinho no começo do processo - aqui foi igual!
    O que foi diferente foi essa vontade de empurrar, até hj tenho curiosidade pra saber como é...rs
    30 horas é "pauleira", hein?! Vc precisava dormir, mesmo, senão não tem como dar conta do expulsivo, né?!
    Delícia esse quartão com banheira e equipe bacana...batia privilégio poder parir assim!! Adorei a foto, aliás!
    E tô curiosa pra ler o resto!!!
    Beijo

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  3. Nossa! Que lindo relato, você foi corajosa, parabéns !!! Bejs

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  4. Me emocionei muito lendo o relato do seu parto!!! Queria muito passar pela mesma experiência que a sua... ter um parto verdadeiramente humanizado, mas não vou criar falsas expectativas. Para se ter um parto assim aqui no Brasil vc precisa pagar por uma equipe humanizada, mesmo que pague por um plano de saúde com direito a parto. Bjos!

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  5. Nossa como o cuidado com o parto é diferente daqui do Brasil...ansiosa para ler o resto deste parto emocionante
    bjo

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  6. Que delicia ter todas as sensações de um verdadeiro trabalho de parto.
    Parabéns pela sua força.
    Bjus
    http://seraquevousermae.blogspot.com/

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  7. Que relato lindo.
    Vc escolheu sentir tudo, e sua coragem e força me impressionam.
    Parabéns!

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  8. Pasma com a diferença do procedimento aí com relação a aqui! Quanto cuidado, quanta paciência, quanto respeito, quanta humanização!
    Até agora (que esse relato aos pedaços nos acaba na curiosidade!) vc só mostrou ser corajosa, guerreira, fantástica!
    Que emoção poder ler esse relato! Parabéns, Rita!
    Bjs

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  9. Ai ai, Li o comentário da Naty ai em cima e fiquei rindo. Brasil tá longe de ter um atendimento assim, por isso ficamos tão surpresa quando lemos um relato de parto com tanto respeito e amor. Incrível!
    Louca para saber o desfecho!

    Beijos

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  10. Noooossa, 40 horas?
    Se fosse no Brasil iria pra desnecessária!
    Duvido uma equipe esperar a parturiente dar luz naturalmente, sem hormônio sintético e outras intervenções.
    Quem nutre ilusãode de ser respeitada e fugir do protocolo tanto do SUS como da rede privada só tem uma opção...
    Parir em casa ou chegar na maternidade no expulsivo e ainda ganha de brinde a manobra do empurra bucho rsrsrsrs.
    Rí alto com sua extrema vontade de cagarrrrr!
    Parabéns, achei mesmo q vc havia esquecido de tudo ou ñ iria mais querer contar!
    Parabéns outra vez!

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  11. Vc foi super guerreira!! Parabéns!! Aqui teriam dito que não conseguiria...que bom que vc teve uma equipe tão bacana! Parabéns mais uma vez!! Beijossss

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  12. Que relato lindo...tantos detalhes!!!!
    30 horas? Vixi...brabo...

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