4 de abril de 2014

Pensando sobre as dificuldades das mulheres no Brasil

Esses últimos dias tenho pensado muito na situação de nós, mulheres, no Brasil. Todo o país está comentando sobre os resultados da pesquisa do IPEA, na qual 65% dos entrevistados concordaram que ataque a mulheres é culpa da própria mulher. Esse dado me chocou muito, mas no fundo não foi surpresa nenhuma pra mim. Isso porque sei o quanto o meu país é machista, já senti isso na pele quantas vezes.

Outra notícia que me chocou foi o roubo do parto da Adelir, em Torres, no RS, com direito a policiais armados a buscando em casa para obrigá-la a ter uma cesária no hospital. A notícia sobre isso pode ser lida aqui. É surreal que essa mulher tenha sido obrigada a ter uma cesária no hospital com argumentos falsos. Ela só queria ficar em casa mais tempo em trabalho de parto para ter a chance de ter um parto normal hospitalar, mas foi obrigada pela justiça a se submeter a uma cirurgia.

Daí justo agora chega na minha casa um envelope grande, enviado para mim pelo hospital onde irei ter meu parto, aqui na Gringolândia. Nesse envelope há cartilhas informativas sobre o hospital, guia para pais, estatística sobre os partos realizados no hospital no último ano, lista com os meus direitos como paciente da obstetricia, serviços oferecidos pelo hospiatal e formulários que eu tenho que responder e encaminhar ao hospital com algumas informações minhas. Vários assuntos são abordados, como a doação do sangue do cordão umbilical, teste de surdez realizado nos bebês e exames de sangue, amamentação. De acordo com o hospital, as cesárias só são realizadas por motivos médicos, episiotomias são realizadas em apenas 3% dos partos normais.

Daí eu pergunto: porque aqui na Gringolândia é assim e no Brasil é tão diferente? Porque muitos obstetras no Brasil dizem que cesária é o parto mais seguro para o bebê quando a OMS e todo o resto do mundo diz o contrário, o que é inclusive comprovado em inúmeras pesquisas científicas? Porque aqui as mulheres são respeitadas e no Brasil a gente vive tanto desrespeito e machismo? Porque no Brasil a gente tem que ouvir cantadas de mal gosto toda vez que saimos na rua, não importa a roupa que estejamos usando?

Por um lado fico feliz por estar aqui e ser respeitada como mulher e como ser humano. Fico feliz por poder parir aqui sem medo de ser submetida a uma cirurgia por nenhum motivo. Mas é injusto que todas as mulheres no Brasil sejam levadas a acreditar que cesária é melhor. É injusto que pra ter um parto normal no Brasil você tenha que desembolsar muito dinheiro mesmo tendo um bom plano de saúde. É injusto que as grávidas no Brasil tenham que ouvir de todo mundo, até mesmo de médico, que elas são doidas por querer ter um parto normal como prega a OMS, que elas tenham que lutar com unhas  e dentes para isso acontecer.

Penso já como será a minha segunda gravidez. Eu gostaria de ter um filho nascido no Brasil, mas não sei se estarei disposta a enfrentar toda essa luta tão injusta.

23 comentários:

  1. Realmente é triste demais a nossa condição de grávida no brasil! Vivi isso na pele e desembolsei uma pita grana pra ter um parto natural! Além do comodismo dos médicos pra marcarem a cesárea, ela tem um quê de elitismo-algumas mulheres acham chique marcar cesarea e dizem que parto normal "é coisa de pobre"! Além de todomo machismo acerca de estragar o parquinho, ponto do marido e talz. É triste, é injusto e chocante! Esse caso da moça de Torres me deixou com nojo dessa obstetra e mais ainda dos milhares de comentários que davam razão à medica... Triste demais!
    Bjos

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  2. Realmente Rita é muito triste e preocupante essa situação aqui no Brasil, o que nos leva cada dia mais a ter vontade de mudar pra Gringolândia....
    Bjus
    http://seraquevousermae.blogspot.com/

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    1. Mima, fico aqui pensando se vou deixar pra ter o meu segundo filho no Brasil por conta disso tudo. Difícil!
      Beijo

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  3. Rita, o caso Adelir é tão, mas tão revoltante que chega a doer na gente! Triste demais!
    E como é diferente por aí, né? Dá até gosto de ver!!! :)

    Um beijão

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    1. Oi, Laura! Não é que por aqui é bom demais, é que no Brasil é ruim demais mesmo! Dá uma revolta enorme!
      Beijo

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  4. É mesmo revoltante a forma como nós mulheres somos tratadas aqui no Brasil!!! As duas matérias ilustram muito bem a nossa situação no atual cenário brasileiro. Estou me preparando psicologicamente (caso engravide nos meses seguintes) para uma cesáriana contra a minha vontade, pois sei que não terei condições financeiras de arcar com uma equipe humanizada e pelo que tenho pesquisado todos os médicos que atendem pelo meu atual plano de saúde são cesaristas e a única maternidade pública que faz partos humanizados vive sempre muito lotada ( vc tem que contar com a sorte se quiser que seu parto seja feito por lá). Que bom que vc terá seu direito respeitado aí na Gringolâdia!!!! Bjos!!!!

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    1. Lyanna, eu acho que você vai engravidar em breve, viu! Tenho certeza! E vou amar acompanhar você gravidinha!
      Beijos

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  5. Rita, que maravilha as estatíscas daí, hein?! Por aqui continua tudo igual..."tem muita festa, samba e rock and roll", já dizia Chico Buarque...um dia, quem sabe, a gente chega lá ou a algum lugar...por enquanto, vigora o desrespeito!

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    1. Myriam é desrespeito até quando a gente sai na rua pra comprar pão e tem que ouvir cantada de mal gosto. Ninguém merece!!
      Beijos!

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  6. Rita, é lamentável a situação do Brasil... Infelizmente! Tomara que um dia os brasileiros acordem pra isso! Até lá, precisamos contar com a sorte para termos o parto dos nossos sonhos. Beijinhos!

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    1. Talita, o movimento contra a violência obstétrica está crescendo e acho que isso é o começo. É claro que demorará uns longos anos pra mudar de verdade, mas tenho esperanças.
      Beijos

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  7. suas palavras não poderiam ser melhores, Rita. eu tb gostaria de ter um filho nascido no Brasil, mas é desanimador... Quando contei para a minha obstetra aqui em SP como havia sido o parto da Alice, ela só conseguiu dizer: você é completamente maluca. O paradoxo ficou por conta da reação dela ao ver meus exames: que lindo útero! se você não me contasse que pariu eu nunca saberia! rsrsrsrs - vai entender.

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    1. Deborah, e quando a gente conta aqui na Gringolândia como é a situação no Brasil todo mundo (mulheres, homens e profisionais da saúde) acham que no Brasil é todo mundo doido (e é mesmo! Tipo a sua obstetra de SP...)
      Beijo

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  8. Eu achei até que era piada esse caso!
    Eu fui uma que optei por cesárea por conta própria sim, mas pq entre ter um parto normal com violência e uma cesárea tranquila preferi a segunda opção.
    Acho o cúmulo o valor de um parto humanizado, acho que até isso deveria ser mais acessível pq nem todo mundo tem esse valor para dar a luz.
    Mas é Brasil e o que importa aqui é a copa né?!?! =(

    Beijos

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    1. Suzy, você falou e disse! A Copa é super importante, e nem isso o Brasil fará direito - veja o exemplo dos aeroportos que vão receber milhares de pessoas e são uma vergonha, nem ficarão prontas as obras antes da Copa.
      Ai, ai...

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  9. Eu acho muito complicado toda esta situação, graças a Deus da última vez encontrei médicos humanos que me trataram como pessoa e não como número, aliás meu atual médico preferiu que eu ficasse monitorada na uti, tomando remédios fortes e induzindo o parto normal, do que arriscar uma cesárea e eu perder meu útero (pois ele receberia um corte vertical)

    Mas o caso desta paciente também me deixa com mil pulgas atrás da orelha, não acredito que uma médica iria tão longe só por achar que a paciente não deveria ter parto normal, arriscar o CRM fazendo isto, acho muito difícil, o que pude perceber é que o bebê corria o risco de vida, e a mãe não queria fazer cesárea, por isto a médica entrou com uma ação judicial, para fazer a cesárea, tenho certeza que se a médica não ligasse e o bebê não resistisse, iriam processar a médica que fez a ultra e não obrigou que a mãe fizesse a cesárea.

    Acho que este caso precisa ser mais esclarecido, tem muito fanatismo em cima dele.

    Beijos

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    1. Suzana, estou acompanhando as notícias pela página Cientista que virou Mãe e .alguns jornais. Parece que de fato não havia justificativa para obrigar a mãe a fazer a cesária naquele momento. O fato é: se fosse aqui nos USA provavelmente nenhum dos partos dessa mulher seriam cesária.

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  10. Todas nós já passamos por alguma dessas inúmeras violências que vc citou. Fui taxada de louca e de "ativista" (no sentido pejorativo da palavra) por querer um parto normal. Mas tive que desembolsar R$ 5.000,00 pra isso.
    Infelizmente nossa realidade é muito triste. Mas parece que já estamos nos organizando, levantando bandeiras, nos informando, pra mudança desse quadro. Coisa que ainda pode estar um pouquinho longe de acontecer. Por enquanto, é só um incomodozinho.
    Bjs

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    1. Oi, Naty! É, vejo que no Brasil pra você querer ter parto normal você deve ser hippie, ou muito estudada, ou bicho grilo, levantar bandeiras na rua... Não deveria ser assim!!
      Mas fico feliz por você ter tido um parto respeitado - é uma pena que custou tão caro!
      Beijos

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  11. Rita querida como e difícil essa luta! O pior de tudo isso e perceber que não há uma melhora... está cada dia pior... Deus nos ajude! Obrigada pelo carinho nas minhas bodas de trigo a viagem foi maravilhosa...
    Bjokas

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